Este é um blogue que surge no âmbito da disciplina de História do Património (Professora Marta M. Gomes), inserida na área de Humanísticas - Turismo, dos Cursos Secundários Profissionalmente Qualificantes. Durante o decorrer deste ano lectivo serão aqui colocados excertos dos trabalhos realizados pelos alunos no sentido de dar a conhecer o património existente em S. Tomé e Príncipe, mas também, visando o objectivo de promover turisticamente este belíssimo arquipélago. Pretende-se ainda, promover uma cidadania activa, no que diz respeito à preservação e manutenção do Património existente.

Esperamos que encontre aqui razões suficientes para visitar a nossa casa e para todos os que já aqui vivem, esperamos que consigamos o objectivo de espalhar a mensagem de que é preciso preservar a nossa história a fim de legar às gerações futuras uma herança digna de ser respeitada e apreciada.

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terça-feira, 29 de julho de 2008

A religião em STP

Independentemente do sítio onde vivemos, de certeza observamos por nós mesmos a enorme influência que a religião tem tido na vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

Entretanto, a religião, ou melhor, a busca de um ser superior por parte do homem tem tomado vários rumos.

O reflexo disso é a abrangente diversidade de religiões que se vê por todo a parte, como sejam, o Cristianismo, o Judaísmo, o Xintoísmo, o Budismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o Taoísmo, e o Confucionismo. Além dessas, a humanidade tem-se voltado também para o animismo, a magia, o espiritismo e o xamanismo. Entretanto, talvez o leitor esteja pensando «eu já tenho a minha própria religião! Porque me interessar por outras?» é exactamente aqui que queremos chegar.

Com a ampla diversidade religiosa que se desenvolve no mundo nos últimos 6000 anos, interessar-se em entender no que os outros crêem, e como as suas crenças surgiram é, no mínimo, instrutivo e amplia os horizontes mentais.

Independentemente de sua formação religiosa, convidámo-lo a participar, através do mesmo, nesta fascinante viagem pela esfera da religião numa pequena ilha situada na linha do equador, mais precisamente no Golfo da Guiné, banhada pelo oceano atlântico – S.Tomé.

Os arqueólogos e antropólogos afirmam que «a história da religião é tão antiga como a história do próprio homem». De facto, «jamais existiu um povo, em qualquer parte, em qualquer tempo, que não fosse de algum modo religioso». Mas, porque o homem é religioso? Para obter resposta a essa simples, porém, importante questão, precisamos, primeiramente, perceber que a palavra religião, etimologicamente, vem do latim religiare, que significa ligar, ou seja, estabelecer uma relação entre o homem e uma força transcendental. Esta ligação constitui uma forma de adoração, que inclui um sistema de atitudes, crenças, rituais e práticas religiosas que podem ser estabelecidas pessoal ou colectivamente.

A religião envolve crenças em Deus ou em deuses, homens e objectos, desejos ou forças da natureza como objectos de adoração. A busca do além por parte do homem deu origem a uma variedade de expressões religiosas, a saber: o cristianismo, o hindoísmo, xintoísmo, judaísmo, islamismo, monoteísmo, animismo, magia, espiritismo, etc. Estas crenças fazem do homem um ser religioso, uma vez que a religião tem influenciado a vida de milhares de pessoas. Em redor do globo, podemos observar uma numerosa diversidade de expressões religiosas que indicam o anseio espiritual por parte do homem.

A religião tem sido refúgio pelo qual a humanidade tem recorrido a fim de obter protecção das «tempestades» deste sistema de coisas. O homem tem passado por diversas aflições, provações, e acima de tudo, tem lutado com a ideia inevitável de encontrar o seu pior inimigo - a morte. Com isso, a procura de Deus tem-lhe dado, em certa medida, protecção e consolo.

A religião tenta dar respostas a questões perturbantes: porque existimos, de onde viemos, para onde vamos, como devemos viver, porque sofremos?

Mesmo entre os que dizem ser ateus (pessoas que não acreditam em Deus) ou agnósticos (pessoas que dizem que Deus é desconhecido), observamos algum tipo de devoção religiosa. A religião tem-se tornado um assunto de tradição, pois geralmente seguimos ideias e crenças religiosas dos nossos pais.

Com movimentos migratórios, pessoas de diferentes religiões têm residido na mesma comunidade. Muitas vezes, esta é a base de muitos dos conflitos entre religiões diferentes. Entretanto, não é necessário odiar pessoas pelo facto de terem perspectivas religiosas diferentes.

Ao longo do trabalho temos vindo a focar o tema a “religião”, mas nunca é demais defini-la. Religião é um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Dentro do que se define como religioso pode-se encontrar muitas crenças e filosofias diferentes.

A religião em S. Tomé deriva do cristianismo, mas também dos diferentes cultos das divindades locais e ancestrais provenientes do continente africano.

Temos em S. Tomé e Príncipe por um lado, a  religião cristã que engloba a igreja católica, Adventista, Evangelista, Maná, Universal, Testemunhas de Jeová, Missionária do Brasil, Assembleia de Deus, Deus é Amor, Bom Deus, Baptista e Joré; e por outro a religião Islâmica.

A religião católica predominou no passado e continua a predominar, embora tenha perdido os seus crentes em detrimento de outras igrejas, que após 1991, com o pluripartidarismo foram surgindo.

Estas religiões, acima mencionadas, são diferentes nas suas crenças. Vejamos a crença de algumas delas: na igreja adventista, além de ser guardado o sábado como o sétimo dia como sendo o dia da semana que Deus estabeleceu para o descanso físico e espiritual do homem, crêem também na segunda vinda de Jesus á terra. Já a igreja Islâmica, considera que o dia principal é sexta-feira. Está escrito no Alcorão que “vos que acreditares, quando chega o dia de sexta-feira, devem abandonar todos os negócios e recorrer á Mesquita para oração, e depois da oração, espalhem-se pela terra á procura do lícito(Allah)". Os artigos fundamentais do Islão são a fé em Deus, nos profetas, nos anjos, nas sagradas escrituras, no juízo final e na predestinação.

Relativamente à igreja Maná, é de salientar que têm como convicções o baptismo nas águas, a expulsão dos demónios, prosperidade material, cura divina, falar em línguas entre outras. As Testemunhas de Jeová acreditam que a bíblia é a palavra de Deus; adoram apenas a “Jeová” como o único Deus verdadeiro, acreditam que o inferno é a sepultura comum da humanidade e recusam a transfusão de sangue. Por último, a igreja Católica acredita na santíssima trindade, professa um só baptismo para a remissão dos pecados, espera a ressurreição dos mortos.

O povo santomense vive da fé, embora se verifique que muitos a vivam à sua maneira, pois é muito comum ouvir-se dizer ”eu cá tenho a minha fé”, ou, “eu vivo conforme aquilo que penso ser melhor para mim”. Hoje, a religião em S. Tomé é tida como algo de que é preciso. Servem-se dela para obter emprego, auxílio para os diversos projectos de vida. Para muitos, a religião é toda igual em todas as igrejas, sejam ela católica, universal de deus ou evangélica.

Quer nós sejamos portugueses, indianos, britânicos ou marroquinos, todos temos o senso do profano, característico da própria condição do homem.

Muitas vezes considera-se sagrado aquilo que verdadeiramente não o é, conforme aquilo que o feiticeiro ou curandeiro disser ou mandar fazer, com o objectivo de obter por esse meio o que se anseia ter. Utilizam o sagrado para atingir os seus fins. Por exemplo, há pessoas que vão ao feiticeiro e este manda celebrar uma missa para tirar a vida àquela pessoa que o rival quer ver eliminado.

Em S. Tomé e Príncipe, também podemos encontrar práticas maniqueístas e o espiritismo. As práticas como o Djambí, Bambí, Flêcê e o Pagá- Dêvê, existentes em S. Tomé, mantêm uma ligação com a religião. Talvez não seja tão difícil de se entender, pois, a cultura de um povo tem sempre influências na religião.

Vejamos então como se relacionam com a religião. Comecemos então pelo Pagá-Dêvê. Esta é uma crença de origem africana, similar à da igreja católica, pois, tal como nela acredita-se em algo que redima o ser humano do pecado original. Todos nós temos uma oportunidade, por isso mesmo, o Pagá- Dêvê representa a oportunidade que o ser humano tem de se redimir de algo que o fez tornar-se humano.

Flêcê: consiste em oferecer como o próprio nome Flêcê. Neste culto, um mês após o nascimento do filho a mãe oferece-o ao mundo, e a Deus. É similar à actividade da igreja, pois aproxima-se á apresentação do Menino Jesus ao templo do Senhor, associado á purificação de N. Senhora, pois costuma-se dizer que a mulher só se torna pura e merecedora do respeito do marido depois de oferecer o seu filho.

“Mudam-se os tempos, mudam-se os ventos ”- talvez esse provérbio explique o facto de o Flêcê estar a aproximar-se da realidade e separar-se do animismo. Há agora a apresentação da criança á igreja, com a presença dos pais perante a igreja.

Este culto é quase que idêntico ao do Pagá-Dêvê, diferenciando-se dele pelo simples facto do Pagá-Dêvê constituir um pagamento feito aos deuses, antepassados e aos sobrenaturais mediante oferenda.

Bambí: Ainda no caso de redenção, defrontamo-nos com o Bambí, muito comum nas mulheres grávidas, prestes a dar à luz. Terão que cortar Bambí, como forma de se redimirem dos juramentos feitos á toa perante o marido ou outras pessoas.

Como havia dito, o povo santomense é também animista, e assim sendo, presta culto aos antepassados, aos seres desconhecidos como, por exemplo, é manifestado no Pagá-Dêvê. Para tal, temos outras manifestações como o Djambí. O Zêtê Péma tem um papel preponderante no sacrifício de tochas no culto do Djambí, funcionando como unguento em conjunto com a vela ardente. A utilização da vela em conjunto com a tocha de Zêtê- Péma demostra uma vez mais este sincretismo latente do povo. O Djambí é um ritual que constitui a prática de veneração cristã. Para além dessas, temos festividades como a Páscoa, a Quaresma e o Natal. Em suma, o povo em geral faz mistura do sagrado com o profano.

Tal como o barro é moldado pelo oleiro, a mentalidade das pessoas também têm sido moldadas pela religião. É de admirar o modo como as pessoas são influenciadas e se deixam influenciar por aquilo em que crêem e valorizam.

A influência da religião na vida das pessoas tem sido tão forte que pode-se afirmar que as formas de adoração praticadas por um povo acabam por ser em grande medida seu factor de identificação e de diferenciação. Portanto a maneira de se vestir, de agir, de lidar com coisas e situações, as convicções, as atitudes e valores de um povo o enquadra num determinado contexto religioso. Por exemplo em países predominantemente católico como é o caso de S.Tomé, vêem-se orando nas igrejas com crucifixo ou rosário na mão. As contas do rosário são usadas para contar as orações feitas em devoção a Maria. Em países islâmicos (a religião islâmica já foi implementada em S.Tomé) escuta-se a voz dos «muezins» ou anunciadores muçulmanos cinco vezes por dia fazendo a convocação do alto das almádenas chamando os fieis para a « salãt» ou oração ritual.

Estes baseiam-se no «Qur’ãn» isto é Alcorão, pois acreditam que é nele que se encontram reunidos os escritos sagrados. Segundo a crença islâmica, ele foi revelado por Deus e dado ao profeta Mohamed pelo anjo Gabriel no sétimo século d.C.

Além dessas e de outras actividades religiosas reconhecida em toda parte da terra, inclusive em S. Tomé, há pessoas a irem de casa em casa e estarem nas ruas com Bíblias e publicações bíblicas (sentinela, despertai etc.); todos as identificam como testemunhas de Jeová, embora cá em S. Tomé sejam designados por «os de Jeová».

Tudo isso para explicar quão importante é, e pode ser a religião na vida das pessoas.

Bem, como já exposto, a religião é uma forma de adoração dirigida à uma força transcendental poderosa e sobrenatural. E como tal, ela não se limita, simplesmente à adoração de Deus ou deuses.

Em muitas partes do mundo, com mais destaque em África, o espiritismo e as superstições também se vêm enraizando firmemente como religião, modelando, moldando, orientando as mentes, as atitudes e os valores das pessoas. Esses rituais espíritas são tão profundos nas pessoas, que chegam a desempenhar um papel importantíssimo nos seus assuntos pessoais. S.Tomé, como país africano que é encaixa-se perfeitamente nesta discrição. É corriqueiro ouvir-se expressões do tipo: «Fulano baiou para fulana» (alguém lançou feitiço para alguém). «Temos que fazer um Djambí para acalmar os espíritos mortos. E o mais misterioso é que quando doentes ou em sérias dificuldades, as pessoas desta ilha preferem sujeitar-se às curas e artimanhas espíritas de um curandeiro a recorrerem à um médico profissional. Alguns justificam isso com o facto de a medicina moderna ser muito cara e muitas vezes não estar ao seu alcance. Sentem-se mais à vontade com um curandeiro que conhece melhor seus costumes e falam seu dialecto, do que com um médico profissional.

Existem superstições no mundo todo, embora estejam mais presentes na cultura africana.

Publicações, filmes e programas de rádio produzidas em África, muitas vezes destacam isso. Elas são prezadas como parte da herança cultural, ou ainda, como curiosidade trivial, que dá sabor à vida. No ocidente, as superstições geralmente não são levadas muito á sério. Porém em África as superstições podem influenciar seriamente a vida das pessoas. Para exemplificar: na maioria das famílias, o nascimento de gémeos, é um acontecimento emocionante. Mas, para os supersticiosos, isto pode ser visto como um sinal. Em algumas regiões da África ocidental, muitos o encaram como nascimento de deidades e os gémeos são venerados. Caso um ou ambos morram, fazem-se pequenas estátuas dos mesmos, e a família deve oferecer alimentos a esses ídolos. Em outras partes, o nascimento de gémeos é encarado como maldição, chegando ao ponto de alguns pais matarem uma das crianças porque acreditam que se as duas crianças sobreviverem, um dia matarão seus pais. Felizmente, isto não faz parte das superstições santomenses. No entanto, S.Tomé também tem das suas, a saber: não se pode dar limão a alguém na mão, pois isto acaba com a amizade; deixar sapatos virados de solas para cima dá azar; ver gato ou galinha prata dá azar; deixar uma vassoura encostada na parede permite que os espíritos maus lancem um feitiço ao ambiente da casa.

Mas, na verdade, nem esta imensidão de palavras é capaz de exprimir cabalmente a influência e o impacto das religiões nas atitudes e valores das pessoas.

Embora o objectivo focal da religião seja o de permitir que os humanos desfrutem de uma relação achegada com um ser supremo ou superior, tentaremos, em poucas linhas mostrar como a mesma pode ser aproveitada para um objectivo diferente - descentralização e promoção do turismo.

Em diversas partes do mundo, este fenómeno é claramente observado. Milhares de turistas viajam de toda a parte para toda a parte, que lhes suscite curiosidade, ou que lhes chame a atenção. Normalmente, quando se ouve falar de turistas associa-se logo a destinos com paisagens lindas, praias fascinantes, hospedagem pacífica, longe da atribulação e do stress profissional, ou seja, lugar onde possam se aventurar, desvendar mistérios e estudar ou conhecer culturas e novas formas de viver. E na verdade a maioria dos turistas viaja com estes objectivos.

Sim, a curiosidade de conhecerem novas culturas e novas civilizações, muitas vezes os dirreciona a práticas religiosas diferentes das suas, que fazem parte do elemento identificador de um povo - a cultura. Por serem preservadas de geração após geração, estas práticas religiosas passam a constituir um grande ponto de interesse para estes turistas. Portanto, o património de um povo é de imenso valor para eles, não só porque os dignifica, porque estimula a adesão de turistas, e isto por sua vez, promove o país, promove os seus bens patrimoniais, desenvolve o turismo, aumenta o produto interno bruto, e consequentemente o desenvolvimento do país passa a ser caracterizado como sustentável, ou seja, progresso económico, moral e social, visando as vindouras gerações.

Este, de facto é o meu, o teu, o nosso e o vosso alvo, no que se refere a S.Tomé. Pretendemos que isto se torne, não em mais um discurso elaborado para o adorno da nossa literatura, mas, numa realidade activa do nosso país. Isto não é um mero sonho almejado, porque já temos um caminho meio trilhado. Felizmente, já recebemos turistas que vêm não só para desfrutarem das frescas condições da nossa pacífica e verdejante ilha, mas também viajam para cá turistas sedentos de conhecimento cultural, patrimonial e religioso também. Há que se fazer um esforço mais aplicado e este pequeno passo tornar-se-á gigantesco.

Gika, Osana, Suzete e Sebela

Ficamos à sua espera! Boa viagem!

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