Este é um blogue que surge no âmbito da disciplina de História do Património (Professora Marta M. Gomes), inserida na área de Humanísticas - Turismo, dos Cursos Secundários Profissionalmente Qualificantes. Durante o decorrer deste ano lectivo serão aqui colocados excertos dos trabalhos realizados pelos alunos no sentido de dar a conhecer o património existente em S. Tomé e Príncipe, mas também, visando o objectivo de promover turisticamente este belíssimo arquipélago. Pretende-se ainda, promover uma cidadania activa, no que diz respeito à preservação e manutenção do Património existente.

Esperamos que encontre aqui razões suficientes para visitar a nossa casa e para todos os que já aqui vivem, esperamos que consigamos o objectivo de espalhar a mensagem de que é preciso preservar a nossa história a fim de legar às gerações futuras uma herança digna de ser respeitada e apreciada.

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sábado, 29 de dezembro de 2007

Roça Diogo Vaz

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“(…) O nosso objectivo é fazer emergir o passado histórico da roça e encontrar estratégias para o seu aproveitamento e desenvolvimento enquanto elemento turístico de São Tomé. Falaremos do seu passado e presente e a apresentaremos como Património avaliando o seu aproveitamento para o desenvolvimento do turismo recorrendo-nos de algumas imagens da mesma. (…) A Roça Diogo Vaz, constitui um dos marcos da presença portuguesa em S. Tomé e Príncipe, na medida em que à custa de mão-de-obra barata eram produzidas toneladas de cacau e copra, bem como outros produtos agrícolas para exportação. (…) Na altura contava com a existência de 1400 serviçais. Estes eram parte fundamental para o estatuto que havia adquirido. (…) Na sede da roça havia um hospital, considerado o melhor de toda ilha. Este era composto por largas e amplas enfermarias e uma grande e bem abastecida farmácia com medicamentos vindos da metrópole.

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(…) O hospital estava, também, apetrechado com uma sala de operações e com todos os meios necessários de cirurgia moderna da altura. (…) Actualmente a Roça Diogo é Vaz uma das roças que se encontra em melhor estado, em relação às restantes, quer quanto à preservação dos edifícios históricos, quer relativamente aos bens naturais. (…) No que concerne à produção, a empresa produz actualmente cerca de 70 a 80 toneladas de copra e cacau. (…) a mesma empresa dispõe de 9 secadores solares e um secador a vapor desde era colonial, (…). Devido à impossibilidade de administrar todas as dependências e devido à falta de mão-de-obra, o estado viu-se obrigado a tomar pública a distribuição das suas dependências, a alguns dos seus trabalhadores. Assim aconteceu com a empresa Diogo Vaz, que distribuio as suas seis dependências, (…). A antiga empresa enfrenta grandes dificuldades como a falta de mão-de-obra, água canalizada e energia eléctrica. A energia utilizada provem do motor abastecido pela barragem de água, que foi feita na época dos antigos proprietários, essa mesma agua é utilizada para os trabalhos na roça e serve, também, para o consumo dos vários tipos de produção pecuária que têm.

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(…) O edifício que antigamente era um dos hospitais (…), devido ao abandono nas épocas subsequentes, deixou de exercer esta função e agora é a actual escola de campo, um projecto novo e que começa a ganhar asas. A chamada, “Escola de Campo de Diogo Vaz”, este projecto que teve início em 2000 com a Associação Natcultura, pretende a preservação do patrimonio cultural e ambiental. Este contou com apoios nacionais e internacionais vários, "visando formar jovens locais e não só, de forma a possibilitar a melhoria das condições de vida nesta crescente população. (…) A formação e o trabalho são fundamentais, mas também existe a preocupação de ocupar os tempos livres com actividades lúdicas, assim podemos encontrar uma sala de jogos, dança e ensino do teatro. (…) É de salientar que os colares, bem como as restantes peças artesanais que são realizadas na escola encontram-se à venda na Santa Casa da Misericórdia. (…) "

Este projecto é multifacetado e podemos encontrar agricultura, apicultura criação de galinhas e patos e uma padaria que vende pão para a comunidade e para a escola, artesanato, carpintaria, informática, costura, gastronomia e agora turismo. Os alunos da escola foram inseridos dentro do chamado turismo solidário ou seja, as pessoas que querem ir à escola podem ir e participar das actividades da escola, ou ensinar aquilo que sabem. Também, nos fins-de-semana os alunos podem mostrar aos turistas as belezas da região, e as actividades que se realizam na roça. (...) começámos a implementar também o restaurante solidário. Isto para que os alunos ponham em pratica o que aprendem nas aulas de gastronomia. Este ano, será feito, na escola, um centro comunitário que funcionará ligado à ideia de ocupação dos tempos livres e organização de actividades recreativas. Mas o mais importante e a recuperação do património cultural.

"Quando se fala de roça, em S. Tomé, associamos de imediato a ideia de pobreza, más condições sanitárias e outros aspectos negativos, (…) mas trabalhando no terreno (…), alguns desses conceitos se alteram, ou seja, o modo de vida das pessoas está-se a desenvolver paulatinamente.

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(…) A população local, possui na grande generalidade, apenas o quarto ano de escolaridade que foi feito na zona, se quiserem prosseguir os seus estudos terão de o fazer no Liceu nacional existente na capital," embora haja escola preparatória em Neves. O que acontece é que muitos dos alunos ultrapassam a idade limite estabelecida pelo Ministério da Educação para frequentarem a escola preparatória de Neves e assim terão de se deslcoar à cidade capital para continuar os seus estudos no ensino nocturno.

"(…) Actualmente os residentes, dedicam-se à prática da agricultura de subsistência, à pastorícia e pecuária, actividades estas que nem sempre são devidamente acompanhadas pelos técnicos da Pecuária. (…) Podemos verificar que os moradores (…) vivem com diversas dificuldades de que é exemplo a falta de água potável, a falta de energia durante o dia e a falta de meios médico-sanitários. (…) Não obstante as dificuldades com que a população se defronta no seu dia-a-dia, é de salientar o esforço da população em ultrapassar as mesmas (…). No local não existem muitas actividades lúdicas, o que é uma questão comum a todo o país e esta comunidade não foge à regra, assim, nos fins-de-semana pratica-se futebol fazendo-se torneios entre as equipas das várias roças, no qual a equipa de Pombal (Diogo Vaz) já foi campeã. (…) Nesta roça as noites são calmas, no entanto, recentemente, foi inaugurado um bar/discoteca, um novo espaço para dançar e conviver. Aos domingos, devido à inactividade da capela, um grupo de jovens dão catequese aos mais pequenos.

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(…)O Sr. Januário com mais de 89 anos, é o residente mais idoso desta comunidade que habita a antiga empresa Diogo Vaz. Chegou a S. Tomé em 1918, trabalhou em regime de contrato, embora na realidade segundo o seu depoimento, o tenha feito em regime de trabalho forçado até à altura da independência. (…). Já com uma idade avançada, o Sr. Januário nega a vontade de regressar ao seu país de origem pelo facto de estar bem enraizado em S. Tomé; esta é pois a sua casa. (…)

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Quando falamos de património histórico e cultural, deve-se considerar as roças de S. Tomé e Príncipe, visto que, tendo em atenção o que consta na lei do património, são considerados património histórico e cultural os bens culturais, quer sejam matérias ou imateriais, existentes em S. Tomé e Príncipe, obra da natureza ou proveniente do exterior, sejam de interesse cientifico, histórico, artístico ou religioso, mas reveladores do percurso evolutivo de uma civilização ou de natureza e em que a protecção e conservação sejam do interesse público, (…) Observando bem as roças de S. Tomé e Príncipe, perdemos verificar que as mesmas são possuidoras de grande riqueza histórico-cultural e arquitectónica. (…) Do ponto de vista histórico, as mesmas apresentam-se como sendo um marco da presença e do domínio português em S. Tomé e Príncipe. Do ponto de vista cultural, as roças constituem a prova factual da confluência e agregação de vários povos originado aquilo que é hoje a cultura são-tomense constituída por aspectos diversos como o folclore, as danças, os falares (dialectos/crioulos), a gastronomia, etc. É toda esta riqueza que nos leva a definir as roças de S. Tomé e Príncipe como património histórico-cultural. (…) Quando entramos na questão da preservação e valorização destes espaços enquanto património histórico e cultural deparamos com variadíssimos obstáculos (…) por incrível que pareça por parte das próprias populações. Tanto é, que maior parte das roças entraram num estado de degradação e de abandono inacreditável, chegando ao ponto de algumas delas já não existirem devido ao avançado grau de degradação que lhes ceifou a existência. (…) No entanto a Roça Diogo Vaz, de facto encontra-se em bom estado de preservação (…). É de realçar que a sua preservação, no entanto, não está relacionada com a perspectiva patrimonial turística, mas sim com a lógica natural dos factos. Enquanto empresa activa a sua preservação crescerá ou diminuirá proporcionalmente aos resultados da mesma. Quanto mais lucros advierem desta empresa mais investimento haverá na mesma e isso originara melhores condições de preservação e manutenção do espaço em que se insere.

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(…) As pessoas fazem turismo em busca de paz e tranquilidade. Fazem-no por curiosidade e para conhecer e interagir com novos povos e culturas e acima de tudo interagir com a natureza, o ar puro do campo, a cor verde das árvores que desperta em qualquer pessoa, sobretudo às que estão o ano todo a trabalhar nas grandes cidades, a sensação de bem-estar e relaxamento. (…) É aí que entra a Roça Diogo Vaz. Consideramos que esta tem todas as condições necessárias para o que se designa actualmente o turismo rural e ecológico, podendo-se transformar num excelente meio de promoção turística de São Tomé se bem aproveitada, reabilitada, preservada e valorizada. A Roça Diogo Vaz para além da diversidade ecológica e florestal que favorece o ecoturismo, têm também um grande potencial humano que demonstra interesse em apreender e participar nesta tão urgente e necessária mudança de mentalidades em prol do desenvolvimento. (…) Quanto às actividades que os turistas poderiam vir a observar, essas são várias, desde a dança e cantares tradicionais, a gastronomia, actividades relacionadas com o turismo ecológico incluindo a prática de desportos radicais. Não podemos esquecer o convívio com as comunidades locais que muito apreciam a vinda de visitantes. Por tudo isto, podemos concluir que a Roça Diogo Vaz, poderá vir a tornar-se num forte e dinâmico pólo turístico em S. Tomé. (…)”

Este trabalho foi elaborado por:

Álvaro Pinto, Amarildo Águas, Dideltino Borges, Maury dos Santos e Simão Vila Nova

Agradecemos as correcções feitas pela Arquitecta Nora Rizzo, que nos ajudaram a melhorar o nosso trabalho.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Roça Água-Izé

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"Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de História e Património por um grupo de estudantes do 12º ano dos cursos Profissionalmente Qualificantes, vertente de Humanísticas, da área do Turismo. Sendo que o turismo tem por base vários tipos de elementos patrimoniais, realizámos este trabalho tendo por, objectivo conhecer e dar conhecer um desses elementos patrimoniais de S. Tomé que é Roça Água-Izé. Através de pesquisas várias, (…), tornou-se possível realizar esta tarefa e recolher informações no que concerne à origem, passado histórico e situação geográfica da roça bem como a sua caracterização ao nível das plantações e infra-estruturas. Por outro lado, foi-nos possível observar o modo de vida da população e perceber algumas das questões inter-relacionadas com o modus vivendis, turismo e património, (...).

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De um modo geral as roças tinham uma estrutura bem definida, no comando da mesma encontrava-se o patrão que tinha a obrigação de resolver todos os assuntos dentro e fora das roças. Por outro lado, os feitores tinham como função administrar as fazendas e por fim os trabalhadores que eram coordenados pelos capatazes. Em S. Tomé existiam cerca de 800 roças, falaremos sobre uma delas, a Roça Água-Izé.

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A Roça Água-Izé, como muitas outras, surgiu entre os finais do século XVIII e princípios do século XIX. O seu nome deriva de um dos rios que a atravessa, o Rio Água-Izé. A mesma pertencia à companhia da ilha do Príncipe, tendo como representante João Maria de Sousa de Almeida, mais conhecido por 1º Barão de Água-Izé. Em 1822, a cultura de cacau foi trazida do Brasil para a ilha do Príncipe por José Ferreira Gomes, como uma planta ornamental. Em 1852, João Maria de Almeida trouxe a mesma para a ilha de S. Tomé, mais concretamente para a Roça Água-Izé, o que viria a contribuiu para o desenvolvimento da cultura do cacau no arquipélago de S. Tomé e Príncipe, tornando-o no maior produtor de cacau a nível mundial. (…) A Roça Água-Izé encontra-se situada no distrito de Cantagalo a sul da ilha de S. Tomé. Tem a forma de um polígono, cuja área é de 80 km2. É caracterizada por um relevo de grandes ondulações de terreno. A linha da costa ocupa uma área de 12km, e era ornamentada por uma imensidão de coqueiros que à presente data é quase inexistente. (…) Enquanto empresa agrícola, Água-Izé era composta por 9 dependências nomeadamente Santo António, Quimpo, Francisco Monteiro, Mato Cana, Anselmo Andrade, Claudino Faro, Bernardo Faro, Monte Belo e Ponta das Palmeiras. (…) A Roça Água-Izé destaca-se pela sua extraordinária beleza ecológica, isto é, pela existência de uma grande variedade de espécies de vegetação bem como de plantações de flores ornamentais como o coqueiro, Rosas de Porcelanas, Bicos de Papagaio, Rosas vermelhas, Girassol entre outras. (…)

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Actualmente os níveis de produção do café e cacau são muito baixos. (…) Na roça podemos encontrar diversos tipos de infra-estruturas, habitações que eram destinadas aos administradores e operários, as senzalas para alojamento trabalhadores dos contratados, instalações fabris que tinham como fim a preparação de produtos para exportação e consumo local, serviços hospitalares, creche, estábulos e por fim, linhas férreas. (…) Hoje, tanto a agricultura como a pastorícia sofreram uma queda, os produtos locais (banana, matabala, fruta-pão e hortaliças) produzidos em pouca quantidade constituem a base alimentar da população. Por outro lado, nas pequenas lojas podem-se adquirir alguns produtos de primeira necessidade. Muitos dos animais anteriormente criados (bois, cavalos, porcos, perus, vacas) raramente se encontram. (…)

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S. Tomé e Príncipe é sem dúvida um país ideal para se visitar e realizar actividades de carácter turístico, uma vez que o seu ambiente e principalmente a sua fauna e flora têm as condições essências para tal. De facto S. Tomé é um verdadeiro paraíso natural com grande potencial para o desenvolvimento de diversos tipos de turismo. Um dos sítios históricos de extrema importância do turismo em S. Tomé é a famosa Roça Água-Izé. Uma roça que contém recursos que fazem parte do património, ou seja, constitui um bem inigualável de grande significado que por sua vez deve ser preservado de forma a garantir a sua existência de geração em geração. A cultura são-tomense enquanto Património deverá ser encarada como recurso de desenvolvimento sustentável, para o qual é essencial a identificação, valorização e preservação. (…) Em Água-Izé podemos encontrar vários tipos de património.

  1. Património histórico-cultural (...),
  2. Património natural, praia do plano, boca do inferno, onde se pode observar um fascinante fenómeno resultante do choque das ondas na rocha, e por fim a rica flora colorida e verdejante.(...)

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Um bom reaproveitamento de todo este património poderá dar origem a um próspero turismo rural e ecológico. (…) Para que isto se torne possível, é necessário primeiramente adoptar um conjunto de medidas e estratégias (…) para o desenvolvimento do país e consequentemente da sua população. Desta forma, para que se verifique a promoção do turismo rural e ecológico, deverão adoptar-se atitudes eco-pedagógicas. Deve-se também intensificar a fiscalização para que diminuam os casos de abuso e maus-tratos do património, deverá proceder-se à reabilitação dos monumentos históricos, preservando a sua traça original. (…) É de ter em atenção, no entanto, que para tudo isto resultar é necessário que a população reconheça a necessidade de preservar o seu património, é necessário que se perceba que esse património são as suas referências e tudo quanto nele existe faz parte de toda uma vida, de todo um passado, consequentemente deverão contribuir activamente para a sua preservação e valorização. (...)

Como viram a Roça Água-Izé é património do povo são-tomense, criado e recriado ao longo dos tempos, grandemente ligada à história do século XIX e à história da cultura do cacau e do café, caracterizadores da nossa adorável ilha. O seu enquadramento geográfico (atravessada por um dos principais rios da ilha - rio Abade), (…) e as suas características a nível estrutural fazem deste espaço um potencial recurso de turismo rural."

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Trabalho realizado por:

Eldon Barros, João Conceição, Marlene Lopes, Sara Luís, Sebela Nascimento

Roça Boa Entrada

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“A Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outros vieram de outros países de África, principalmente de Cabo-Verde. Trata-se de indivíduos sem fontes de rendimento, que para trabalharem emigraram em busca de uma vida melhor. A maioria da população de Boa Entrada é pobre e só existe uma minoria, não considerável, com condições financeiras aceitáveis. (…) A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial. Devido à falta de emprego a população, sobretudo os jovens, referem que a única coisa que têm a fazer é ter filhos. Facto esse, que tem contribuído para o aumento em massa da população de Boa Entrada e a diminuição de oportunidades para esses mesmos jovens. Para essas famílias ou jovens, a criança constitui, erradamente, uma fonte de rendimento visto que como mão-de-obra no trabalho do campo. (…)

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Na Roça Boa Entrada a população enfrenta várias dificuldades, no que diz respeito à alimentação. Anteriormente, a população da Roça Boa Entrada devido ao seu reduzido número, tinha acesso a uma alimentação saudável e equilibrada, uma economia de auto-subsistência com base nos produtos que produziam. (…) Os habitantes ocupam as antigas casas ou constroem novas casas com todo o tipo de materiais improvisados. As visíveis más condições em que as mesmas se encontram, são uma das faces mais visíveis da pobreza e está associada a outras das várias carências socioeconómicas desta população, o abastecimento de água, o saneamento, a educação e a saúde (…) Os níveis de analfabetismo e iliteracia são assustadoramente elevados e enquanto o analfabetismo está relacionado, principalmente, com a camada mais idosa da população (como é normal, pois a necessidade de estudar não era tão importante como agora e aqueles que estudavam eram na sua maioria homens.) a iliteracia é um fenómeno preocupante que diz respeito aos adultos activos e adolescentes em fase de escolarização. (…) Anteriormente, as infra-estruturas da Roça Boa Entrada compreendiam a fácil acessibilidade às suas dependências, bem como à cidade, o caminho-de-ferro que ajudava os trabalhadores nas tarefas. De realçar que o descarregamento dos produtos era feito no final da linha de caminho-de-ferro que se situava perto do mar. Actualmente, Boa Entrada “encontra-se perdida, fora do mapa” segundo alguns moradores. (…) As actividades culturais, recreativas são actos que não podem faltar numa localidade que se preze. Nesta óptica, Boa Entrada tem uma série de actividades que são realizadas em prol do desenvolvimento e divertimento da mesma, tais como festas religiosas de que é exemplo a que se realiza na última semana do mês de Setembro. Tem uma discoteca todos os fins-de-semana, fazem-se torneios de jogos da bisca, de futebol com outras localidades.

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A floricultura, também desenvolvida, consiste na produção de algumas espécies atractivas de plantas que os turistas, principalmente os que visitam esta zona da ilha muito apreciam. (…) São estas as principais actividades que a população de Boa Entrada, pratica ao longo do seu quotidiano, algo que não se verificava hà décadas atrás, mas que no decorrer dos últimos anos os moradores todos os esforços têm feito para uma maior dinamização desta localidade bastante emblemática para o povo são-tomense. (…)

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De acordo com o trabalho desenvolvido, por nós, na roça Boa Entrada, tivemos a triste percepção de que os moradores (…) em vez de protegerem a roça como algo que faz parte da história de S. Tomé assim como das suas vidas e da sua própria história pessoal, contribuem para destruição dos bens imóveis (infra-estruturas) aí existentes, (…) que constituem o Património Histórico-cultural do país. Pensamos que deveria haver uma maior e mais rígida fiscalização, no sentido de averiguar se a lei está ou não a ser cumprida. Porém, não podemos colocar todas as culpas nas mãos do Estado, uma vez que cabe a todos nós, em particular aos moradores da roça, terem consciência de que a Roça Boa Entrada é deles e que a devem proteger e preservar como um legado que deixarão aos seus filhos e netos. (…)

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De acordo com o trabalho realizado na Roça Boa Entrada, constatámos que a mesma enfrenta muitíssimas dificuldades, mas também apresenta recursos próprios que consideramos vantajosos para o seu desenvolvimento e que deveriam ser aproveitados como o facto de a Roça constituir em si um elemento Patrimonial Histórico-cultural que poderá promover o desenvolvimento, bem como os baixos níveis de poluição que apresenta. Quanto ao turismo, para que este seja promovido e desenvolvido, têm de ser aplicadas algumas estratégias no que concerne ao meio ambiente e à educação e sensibilização para a valorização dos valores culturais locais pois são estas as potencialidades de Boa Entrada. O desenvolvimento turístico da Roça Boa Entrada depende grandemente de projectos que beneficiem a comunidade, (…) aumentando assim, a riqueza produzida, devendo-se promover projectos ligados (…) ao desenvolvimento do turismo rural.”

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Trabalho realizado por:

Carlos Barros, João Pedro Cravid, Odair Moreno dos Santos, Osana Leal Fernandes e Teodora Martins.

Roça Ponta Figo

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“A Roça Ponta Figo situa-se no norte de S. Tomé, mais concretamente no distrito de Lembá, distanciando-se da Cidade Capital por aproximadamente 29 km. (…) A Roça Ponta Figo foi uma empresa agrícola construída em 1928-1929. Como todas as Empresas Agrícolas, teve como principal objectivo a produção de cacau, café e também outras culturas como, mandioca, milho, o cultivo da palmeira para a produção de óleo de palma e cana-de-açúcar para o fabrico de aguardente. Estas contribuíam para o desenvolvimento e progresso da Metrópole (Portugal). (…) A mão-de-obra que trabalhava nas plantações era essencialmente constituída por trabalhadores contratados que vinham de Cabo Verde, Moçambique, Angola, e Guiné-Bissau. Estes trabalhavam em condições sub-humamas, embora viessem trabalhar em regime contratual. (…) Na era colonial, a empresa juntamente com as suas 16 colónias, nomeadamente António Morais, Ponta Figo Praia, Ribeira Funda, Ribeira Palma, Rosema, Ribordelo, Stª. Teresa, Monte Forte, Generosa, Bom Sucesso, Costa Santo, Cascata, Fortunato, João Paulo, Mendes Leite e Manuel Moras, funcionava em unidade para melhorar a qualidade e a quantidade da produção. (…)

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Por roça entendemos uma unidade agrária típica da época colonial, composta por um núcleo central com um vasto terreiro em torno do qual se situam a casa do administrador da roça e as habitações dos diversos empregados, a senzala, o hospital, oficinas, diversos armazéns, lavandarias, etc. Todo este complexo era circundado por campos de cultura de cacau, café, cana-de-açúcar, copra, bananeiras entre outras existentes para o sustento dos nativos, bem como para o desenvolvimento da economia da metrópole. (…) A roça Ponta Figo seguia a estrutura típica das roças da altura. Um núcleo central ou sede, neste caso a Roça de Ponta Figo constituída pela casa do administrador ou «casa de patrão» como os trabalhadores da empresa lhe chamavam; as casas dos empregados denominadas de senzala (o mesmo nome dado ao espaço onde anteriormente, no regime de escravatura, alojavam os escravos), o complexo hospitalar composto normalmente por um bloco operatório, uma enfermaria e uma casa mortuária, os armazéns, os secadores eléctricos ou a lenha, as estufas destinadas á preservação do cacau, as lavandarias, a cantina e a padaria. Tinham ainda um sistema eficaz de saneamento do meio constituído entre outras, por algumas casas de banho comunitárias, chafarizes e água potável canalizada. Existia uma ou mais capelas, onde devotamente participavam tanto trabalhadores como os donos das roças. (…) A 30 de Setembro de 1975, após independência, dá-se o processo de nacionalização das roças. (…)

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É um facto que a maioria das empresas, incluindo Ponta Figo transformaram-se em empresas fantasmas, abandonadas e degradadas em todos os sentidos, pelo que o estado foi aconselhado a desligar-se da administração das roças, passando-as para as mão de privados, dando assim início ao processo de privatização das roças, o que aconteceu sob a forma de venda de loteamentos a nacionais. Todos estes acontecimentos trouxeram novas necessidades de adaptação ao sistema estrutural empresarial nomeadamente no que diz respeito à preservação dos edifícios das antigas empresas agrícolas, como no caso da Roça Ponta Figo. Muitos destes espaços passam a adquirir novos desempenhos e novas designações, alterações que influenciaram de forma directa a vida dos trabalhadores e residentes. (…) Quando se deu início à distribuição das roças aos moradores, estes tiveram enormes dificuldades económicas na gestão das suas parcelas. Na verdade, as roças que anteriormente tinham estado voltadas sobretudo para o cultivo do cacau dando lucros à metrópole, agora não conseguem garantir a subsistência daqueles que foram beneficiados com esta distribuição de parcelas de terra. Assim, os moradores, agora proprietários começaram a tentar tirar proveito de tudo quanto ela possuía, como o abate das árvores de forma a garantir a subsistência das suas famílias. Hoje em dia a população de Ponta Figo vive essencialmente da criação de gado caprino e suíno destinado ao abate e comércio. Outros têm pequenos negócios como quitandas e/ou salões de cabeleireiro, cuja maior parte dos seus clientes são os habitantes da comunidade que não obstante os poucos recursos económicos dão primazia à aparência. (…)

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Embora não se pretenda dar à Roça Ponta Figo o seu antigo carácter empresarial é necessário e urgente o aproveitamento das infra-estruturas ainda existentes e criar novas que estimulem o empreendimento turístico, abrindo desta forma, novas oportunidades de trabalho para todos os membros da comunidade. É necessário investir na construção de novos edifícios/infra-estruturas socioeconómicas que promovam o desenvolvimento desta e outras comunidades, como escolas, jardins, creches, hospitais. É preciso investir na educação promover a sustentabilidade dos jovens que querem aceder a bolsas de estudo a fim de dar continuidade aos mesmos, é necessário promover seminários e formações que contribuíam para a educação cívica e profissional, para que todos se tornem cidadãos activos. Verificamos no entanto que, há consciência de que uma boa imagem do local, não depende somente da construção e da reabilitação das infra-estruturas, do investimento do governo, mas sobretudo da mudança de mentalidade por parte da população, para que estes possam preservar o património de modo a abrir as portas para o desenvolvimento de um turismo rural. (…) Segundo a lei patrimonial vigente, no artigo nº11, todas as roças são consideradas património rural, sendo assim a Roça Ponta figo não foge à regra. Como património que é, tem muitas potencialidades naturais e arquitectónicas que podem ser aproveitadas para a promoção e desenvolvimento turístico. Não só por isso, mas também por ter excelentes vias de acesso, água canalizada, energia eléctrica permanente, o que faz com que a Roça Ponta Figo esteja permanentemente iluminada.

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É necessário investir na roça de modo a aproveitar as suas potencialidades em prol do desenvolvimento do turismo rural. O que nós propomos nesse sentido é por exemplo a construção de um parque de campismo, onde as pessoas pudessem passar os finais de semana em contacto directo com a natureza, usufruindo da paz e tranquilidade que a mesma nos oferece. (…)”

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Trabalho realizado por:

Adilsa Camblé, Adozinda de Assunção, Adriana da Glória, Aycila Aguiar, Liliane Moreira e Suzete Brandão.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Roça Porto Alegre

Pico Cão Grande
"O seu passado rico, precioso e complexo é similar à preciosidade do Jaspe e à complexidade da sua cor. Quem tiver o singular privilégio de visualizar esta rara pedra preciosa certamente ficará repleto de variadíssimas e agradáveis sensações; igualmente aquele que tiver o privilégio de conhecer a Roça Porto Alegre ficará, decerto, extraordinariamente encantado. (...) Encontramos a sul ilha de S. Tomé, uma antiga empresa agrícola denominada Porto Alegre, hoje convertida em vila. Distanciada a 84 km da cidade capital, pertence ao distrito de Caué e tem como sede distrital São João dos Angolares, principal aglomerado populacional desde 1975, data em que São Tomé e Príncipe se tornou independente. Também fazem parte da Roça Porto Alegre as empresas Ribeira Peixe, Monte Mário e Ilhéu das Rolas. Ao fundo, quando se faz o percurso como quem segue na direcção sul a Caué, vê-se a imagem, empolgante, de uma coluna fina com o nome de Pico Cão Grande, quase sempre encoberto pelo nevoeiro. (...) Uma etnia real, cujas origens ainda constituem um mistério – os Angolares são o maior aglomerado populacional do distrito de Caué e estão centrados no Malanza, zona localizada perto de Porto Alegre. (...) Os Angolares chegaram à ilha após o naufrágio de uma embarcação de escravos em direcção às Américas no séc. XVI, tendo alguns dos seus sobrevivente conseguido nadar até à costa da região sul da ilha que ainda não se encontrava povoada pelos portugueses. No entanto, esta versão não se encontra bem esclarecida pelo facto de existirem poucos documentos comprovativos deste naufrágio. (...) Conforme se sabe, a chegada e instalação dos colonizadores portugueses na região sul do país (Porto Alegre) até à independência, marcou bastante a sua história e principalmente o seu desenvolvimento económico e social. (...) Após a nacionalização das roças, a 30 de Setembro de 1975, verificaram-se alterações sociais, organizacionais e económicas nas roças, inclusive em Porto Alegre. (...)

vista do Miradouro da Casa do Governador

Segundo o artigo 3º da lei do património de S. Tomé, define-se como património todos os bens materiais e imateriais (zonas, edifícios e outros bens naturais), móveis e imóveis, público e privado de um determinado país que pelo seu valor próprio devem ser considerados como de interesse relevante para preservação da identidade e a valorização da cultura ao longo do tempo. De acordo com a mesma lei, existem os seguintes tipos de património: património natural, documental, artístico, cultural e histórico-linguistico. Estes podem ser classificados como monumentos históricos, sítios históricos e objectos e arte. Tendo em consideração estes aspectos, podemos deduzir que a Roça Porto Alegre e os anexos que dela fazem parte, constituem património cultural e podem ser, simultaneamente, classificados como conjunto arquitectónico. (...)
Um dos aspectos culturais, a salientar, deste povo e que tem vindo a ser preservado, embora com dificuldades, é o seu património linguístico – o angolar. (...)
Tal como a maioria das roças de S. Tomé, Porto Alegre, apesar da pobreza, é um lugar paradisíaco que nos encanta a toda hora, proporcionando vistas magníficas capazes de maravilhar qualquer amante da natureza. (...) A praia Jalé, é uma das mais frequentadas pelos turistas e pelos amantes da natureza, devido ao facto de lá existirem muitos bungalows, que permitem uma óptima e agradável observação das diversas espécies de tartarugas marinhas que chegam a ilha, em épocas próprias com o propósito de desovar. Por este motivo esta praia é protegida no âmbito do programa de protecção de tartarugas marinhas. De Setembro a Abril, os guardas da praia patrulham a mesma, durante a noite, zelando pelo bem-estar das tartarugas e supervisionado a desova das mesmas. Qualquer turista que se desloque à praia Jalé poderá observar directamente este espectáculo da natureza. (...)
Os turistas também poderão sentir-se cativados pelos dois grandes enigmas da natureza, que emergem da impenetrável, viçosa e densa vegetação tropical – o Pico Cão Grande e o Pico Cão Pequeno! Poderão ainda desfrutar de actividades como a pesca artesanal, as agradáveis caminhadas e depois disso descansar num restaurante típico e provar o Voador, a Corvina ou o Barracuda, os peixes mais frequentemente pescados. (...) De acordo com a nossa observação, chegamos à conclusão de que esta roça possui todos os requisitos necessários para ser transformada num potencial atractivo turístico. (...) Uma intervenção por parte do Estado irá promover um incentivo para a promoção patrimonial civil. Todavia, a população deve entender a necessidade de apoiar as iniciativas do Estado, desenvolvendo a sua própria iniciativa que passa pela utilização do espaço local e dos imóveis que dele fazem parte para o desenvolvimento deste país, respeitando o meio ambiente, adoptando novas atitudes, valores e costumes. (...) Caso contrário, haverá uma perda de todos os imóveis que marcam a história da roça e uma perda de todas as qualidades necessárias para a promoção turística. Não é a ideia de desenvolver o turismo nacional, de todos nós? Então não deveríamos, todos, ter uma atitude mais activa? Neste caso, depende de todos nós proteger e valorizar o património existente, pois está nas nossas mãos o nosso bem-estar e o das gerações vindouras."
trabalho realizado por:
Adjamila Moreira, Berlindo Moreira, Gika Gessy de Deus Lima, José Ferreira Borges e Kelves Quaresma.