São Tomé e Príncipe constitui um centro de congregação de vários povos. Como resultado desta mistura, temos a assimilação de várias tradições, costumes e culturas trazidas essencialmente pelas pessoas que vieram trabalhar nas ilhas a título de trabalho contratado.
Assim sendo, São Tomé e Príncipe apresenta, no panorama histórico-cultural, um conjunto de manifestações que consideramos ser o nosso património. Deste modo temos a Puíta, Socopé, Bulauê, Danço-congo, Ússua, Quiná, D’jambi, Deixa, Vindes Menino, Auto de Floripes e o Tchiloli ou a tragédia do Marquês de Mântua e do imperador Carlos Magno.
E é sobre uma dessas manifestações culturais, mais concretamente o Tchiloli, que falaremos ao longo do trabalho.
Tchiloli é uma manifestação cultural que não teve a sua origem em S.Tomé.
Existem duas versões, controversas que diz respeito ao autor da obra supracitada. A primeira, diz que a obra é francesa, passou por Espanha chegando posteriormente a Portugal. Por outro lado, temos a versão que diz que a obra terá sido escrita por Baltazar Dias, poeta cego madeirense e que foram os portugueses que a trouxeram nas suas naus para S.Tomé.
Além destas versões, existe uma, relativamente desconhecida, que postula que a obra terá vindo do Brasil para o continente africano.
Esta obra faz parte do ciclo da história de Carlos Magno. Baltazar Dias fê-la a partir das canções de gesta, isto é, da obra medieval que retratava as façanhas de Carlos Magno.
Esta obra representada por trupes de teatro convidados por mestres açucareiros do século XVI é de inspiração religiosa, e está ligada à paixão de Cristo e ao imperador Carlos Magno.
Tchiloli, nome crioulo da obra, é uma peça dramática que retrata a tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno.
Conta-nos a história de uma das personagens mais emblemáticas do contexto europeu, o Imperador Carlos Magno, que tinha como único herdeiro o seu filho D. Carloto.
D. Carloto apaixona-se perdidamente pela mulher do seu melhor amigo, Valdevinos, sobrinho do Marquês de Mântua. Tal facto faz com que D. Carloto, convide Valdevinos para uma caçada. No entanto, durante a caçada, o príncipe ataca Valdevinos pelas costas com uma navalha, causando-lhe um grande ferimento que culmina com a sua morte. Mas, antes da sua morte confessa ao pajem que quem o atacara fora o príncipe. Deste modo, a notícia espalha-se feito rastilho de pólvora, chegando até a corte do seu tio Marquês de Mântua, que, convoca a reunião de família, com o objectivo de apanhar o culpado pelo crime, e de fazer com que o mesmo pague por tal acto cruel.
Assim começa a investigação. O culpado fora descoberto através do pajem, que levava uma carta de D. Carloto ao seu tio Roldão confessando-se assassino de Valdevinos. Contudo, o Príncipe negando-se culpado tenta livrar-se da acusação que lhe pesava com a ajuda do seu advogado. Todo esse esforço em vão, pois, fica posteriormente provado que o mesmo era o culpado e que tinha ser julgado.
O imperador como alguém justo e imparcial era obrigado a prendê-lo, ainda que fosse seu filho. A rainha tenta persuadi-lo a não fazer tal coisa mas o mesmo permanece firme na sua decisão. Deste modo, a família enlutada sai ainda que triste pela morte de Valdevinos, contente por se ter feito justiça. Como forma de acabar com o conflito entre as duas famílias, o Marquês cumprimenta o imperador felicitando-o pela imparcialidade e humildade com que geriu o caso.
O Tchiloli é hoje uma manifestação cultural, que dada a sua origem demonstra muitas influências europeias, como a dança executada por exemplo pelo Ganalão. Se escutarmos com muita atenção a música, apercebemos que representa as grandes batalhas da Idade Média.
Além das influências europeias, existem também influências africanas como os instrumentos utilizados. Na inexistência dos instrumentos que eram utilizados pelos mestres açucareiros houve a necessidade de introduzirem-se instrumentos africanos. Por outro lado temos outras influências, como por exemplo, a inserção de textos falados por alguns personagens como o ministro, assim como a inserção de novos personagens, os advogados Bertrand e Anderson.
Em S. Tomé e Príncipe, como em qualquer país africano, dá-se grande importância aos ancestrais. Como tal, antes de qualquer manifestação cultural, há como que uma comunicação com os ancestrais.
Como o Tchiloli é uma manifestação cultural, não foge á regra. Antes da representação propriamente dita do Tchiloli, há rituais e costumes que antecedem o mesmo. Um dos actores do grupo e a sua família fica encarregue de preparar a comida e o vinho da palma. Nas festas religiosas, essa bebida e comida são transportadas á capela. Á frente da estátua, à volta da capela, em becos e nos quintais é depositado o vinho da palma pelo chefe do grupo, que vai pronunciando e chamando pelo nome dos ancestrais, fazendo igualmente o sinal da cruz. É também depositado o vinho da palma e os instrumentos utilizados.
É depois destes rituais que normalmente se representa o Tchiloli. Segundo os actores, com este ritual pretendem dar ânimo ao grupo e chamar os ancestrais a estarem presentes na actuação.
À semelhança de outras manifestações culturais existentes no país, o Tchiloli é acompanhado por um conjunto de instrumentos que enfatizam e demonstram que a peça foi aculturada. Pois, quem ouve o Tchiloli parece ter a sensação de estar a ouvir um som da idade média
O Tchiloli, escrito no século XVI por Baltasar Dias, poeta cego madeirense, como havíamos dito, foi trazido para São Tomé pelos mestres de engenhos de açúcar, deslocados da ilha da Madeira.
A população local apropriou-se de tal costume e através dos tempos foi construindo o seu próprio espectáculo, onde inclui elementos da sua cultura. É verificável, por isso, que cada grupo respeita a história original, mas, que através da sua originalidade e capacidade criativa, acrescenta novos dados. Por exemplo, na actuação do grupo Florentina de Caixão-Grande é entoado o Hino Nacional com a entrada do Príncipe D. Carloto na cena. Tal não acontece na actuação do grupo Formiguinha de Boa-Morte. De realçar que a máscara utilizada por Reinaldos da tragédia Formiguinha não é idêntica à do Reinaldos da tragédia Florentina.
Temos por outro lado, vários anacronismos na peça. O que podemos constatar através de alguns elementos como o telefone, a máquina de escrever e a maneira de vestir. Tudo isso, quase que denunciado pelo tempo, pois, o vestuário utilizado, por alguns personagens, na actuação são actuais, e por outro a invenção do telefone e da máquina de escrever não se deu no século em que a obra foi escrita.
Relativamente há alguns anos, os grupos que representam o Tchiloli têm diminuído consideravelmente. Tanto é que actualmente apenas temos os grupos: Formiguinha de Boa–Morte, Florentina de Caixão–Grande, a tragédia de Desejada, Madredense, a tragédia Benfica de Cola–Grande, sendo importante sublinhar o importante papel das festas religiosas para a manutenção de alguns grupos que representam a mesma peça.
O Tchiloli em relação à população, é ainda um património por descobrir. A nossa população, de uma forma geral, não sabe nada ou quase nada sobre o Tchiloli. Esta actividade pela sua organização, a sua forma de apresentação (harmonia entre a presença de cada personagem, a dança, a acção e a música) constitui uma actividade muito cativante, divertida e atractiva para a população são-tomense, pelo que alguns deles definem o Tchiloli como uma brincadeira criada para diversão.
Para que um património seja valorizado num país, é necessário que o mesmo seja conhecido pela população, tendo em vista os aspectos relevantes que o caracterizem como tal.
Embora sendo uma peça de origem europeia, o Tchiloli é hoje património cultural são-tomense. Pois, após ter sido introduzido em S.Tomé, passou a ser praticado por são-tomenses e com algumas alterações conforme a percepção do mesmo povo. Temos na obra influências europeias e africanas, que fizeram com que tivéssemos o Tchiloli que hoje temos. O Tchiloli constitui um dos testemunhos da história de S. Tomé e ao mesmo tempo, traço da presença e dominação europeia no nosso país. Ao estudarmos a mesma peça teremos que obrigatoriamente enquadrá-la no contexto histórico do nosso país, e ao enquadrá-la neste contexto, a mesma nos fornecerá provas dos factos ocorridos ao longo da história.
Portanto, tendo em vista estes aspectos, O Tchiloli deve ser valorizado como património cultural são-tomense e assim sendo deve, também, ser preservado pelos são-tomenses. Mas, para que isso aconteça é necessário desenvolver actividades que permitam a recuperação de todas as manifestações culturais, em especial o Tchiloli e sobretudo, torna-se importante o conhecimento da história por parte da população para que entenda o que está a ver.
Diga-nos o que achou do nosso trabalho. É bastante importante para nós saber a sua opinião. Queremos contribuir para o crescimento do nosso país e com as suas opiniões e sugestões, decerto, estaremos mais aptos a fazê-lo. Obrigada por ter lido o nosso trabalho.
Osana, Odair, Simão
12ª B
10 comentários:
É só para parabenizar- te pelo blog. Está espetacular, show de bola mesmo.
Amei,muitos parabens.
Vou te enviar um site de um amigo, que pode-se baixa muitas musicas de stome,sabe aquelas bem antigas que quase que a gente ja ia se esquecendo? la tem quase todas elas.
http://www.4shared.com/dir/6021203/273cae68/Sao_Tome_e_Principe_Musica.html
Beijos e parabens
somo de uma comissão de encontro de mascaras no brazil e gostariamos de entrar em contato com um grupo de Tchilôli - Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno
para trazermos para o brazil para uma apresentação
Considero muito bem estruturada e bem analisada, a abordagem do tema.
Estao a ser citados aqui:
http://globalvoicesonline.org/2011/07/12/sao-tome-and-principe-traditions-culture-identity/
Qual e a melhor altura do ano para se visitar Sao Tome para poder assistir a um tchiloli?
Sera que alguem me podia dizer qual seria a melhor altura para visitar Sao Tome para poder assistir a um Tchiloli?
O Tchiloli não é uma manifestação artística sazonal, pelo que qualquer altura do ano é boa para assistir a um tchiloli desde de que este seja representado em algum terraço. A melhor maneira de assistir é, depois de chegar a STP, tentar contactar com os locais de forma a saber onde se realizará alguma representação, ou contactar algum grupo de tchiloli, como o caso do grupo formiguinha.
atentamente
marta gomes
Parabens. Acabo de ver na tv um doc sobre o tchiloli e vosso sitio o resume bem. Mantenham a tradiçao!!!! Paulo Jurza, Brasil.
Muitos parabens. Escelente descricao
Muitos parabens. Escelente descrição.
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